O diretor brasileiro Fernando Meirelles recebeu nesta terça-feira (29), com surpresa, a notícia de que havia sido incluído na seleção oficial do Festival de Cinema de Cannes e que seu filme mais recente, "Ensaio sobre a cegueira", disputaria a Palma de Ouro. Mas as novidades não pararam por aí: a produção ainda foi selecionada para abrir o evento, o que dificilmente acontece com os filmes em competição.
"Me sinto tão feliz quanto nervoso com esse espaço que nos foi dado. Sei que 'Ensaio sobre a cegueira' não é o filme mais adequado para anteceder um coquetel e uma festa e sei também que algumas pessoas se sentirão incomodadas com a história, apesar de não haver nada que seja apelativo ou de mau gosto no filme. De qualquer maneira, já estou preparando o espírito para uma possível artilharia", afirma o diretor.
Ele conta que houve um impasse entre o festival e o distribuidor francês do filme, antes da decisão final de selecioná-lo tanto para competição quanto para a abertura. "Há 15 dias fomos colocados numa espécie de limbo em relação a Cannes. Houve um convite para 'Ensaio sobre a cegueira' abrir o festival, mas o distribuidor francês não aceitou, por achar que o filme deveria estar na competição. Instalou-se assim um impasse. Finalmente, foi aberta uma exceção e exibiremos o filme em competição."
Meirelles aproveitou ainda para destacar a forte participação latino-americana no festival e se disse orgulhoso por fazer parte dela. "Em 2003, andei dizendo que havia uma onda de cinema latino-americano formando-se e confesso que me frustrei um pouco nos anos seguintes, por não ver confirmada minha sensação. Ao ver esses 21 filmes latino-americanos nas diversas seleções de Cannes, começo a achar que aquela onda finalmente emergiu e está mostrando sua cara. Me sinto muito orgulhoso de estar ajudando a formar um pouco desta espuma que agora se mostra."
Além de Meirelles, Walter Salles e Matheus Nachtergaele, em sua primeira investida como diretor, já haviam sido divulgados como tendo seus filmes no festival de cinema.
Baseado no livro de José Saramago, o longa é uma co-produção entre Brasil, Japão e Canadá, e foi rodado em várias partes do mundo, inclusive em São Paulo.
A história trata de uma epidemia de cegueira, sem motivo aparente e sem cura, que se espalha por diversas cidades do mundo. E a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico, interpretada por Julianne Moore. No elenco, além dela, estão Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover e Gael Garcia Bernal, entre outros.
30.4.08
'Me sinto tão feliz quanto nervoso', diz Fernando Meirelles sobre Cannes
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