11.2.08

'Variety' aponta fascismo em 'Tropa de elite'

A "Variety", um dos veículos mais influentes da indústria cinematográfica, publicou nesta segunda-feira (11) uma crítica contundente sobre o filme brasileiro "Tropa de elite", exibido internacionalmente pela primeira vez durante o Festival de Berlim esta manhã. No texto, assinado pelo crítico Jay Weissberg, o longa de José Padilha é descrito como "a celebração da violência pelo bem, que funciona como peça de recrutamento para criminosos fascistas".

O autor sugere também uma suposta semelhança entre o uniforme e o distintivo do Bope - o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio - com os da brigada Cabeça da Morte (Totenkopf), guarda de elite da SS nos campos de concentração nazistas.

Um dos argumentos da crítica de Weissberg consiste na escolha de Padilha em narrar a história a partir da visão de Capitão Nascimento (Wagner Moura), o que "reforça a identificação, mas também aliena os espectadores inteligentes que não precisam de explicações para cada conceito que já está sendo mostrado visualmente". "Ainda que o filme tenha sido o mais visto de 2007 no Brasil, o público de filmes de arte não deve perdoar o inescapável ponto-de-vista de direita", avalia Weissberg.

O crítico da "Variety" reconhece, no entanto, que "Tropa de elite" traça um "retrato honesto" das favelas cariocas e da corrupção no sistema policial", mas afirma que isso é feito "celebrando policiais psicopatas e ridicularizando quaisquer tentativas de ativismo social". E prossegue: "os policiais comuns são simplesmente corruptos, os assistentes sociais, lamentavelmente inefetivos e ingênuos e os jovens ricos que fumam maconha são tão maus quanto os traficantes das favelas. Apenas o Bope pode salvar a cidade, mas antes ele precisa remover cirurgicamente qualquer coisa que se assemelhe a um coração".



'Qualquer outro'

Exibido para jornalistas internacionais em Berlim na manhã desta segunda, “Tropa de elite” (ou "The elite squad") recebeu legendas em alemão e foi narrado em inglês, francês e espanhol por meio de fones de tradução simultânea.

Em entrevista coletiva pouco antes da sessão, Padilha afirmou não ter idéia de como o filme seria recebido no festival, na Europa e, conseqüentemente, no exterior.

"Tem coisa que a gente não controla na vida. Uma delas é como seu filme vai ser recebido. Mas acho que vai ser visto de um jeito diferente, porque aqui na Europa o histórico cultural e a realidade são outros. Acho que 'Tropa' vai ser visto mais como um filme como qualquer outro e não como um assunto que deu margem a tanta discussão, como aconteceu no Brasil", comentou o diretor.

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